O carma dos políticos incumbentes ou mudou a nova forma de comunicação na política?

Cleidiane Martins Política

Por Cleidiane Martins – Advogada – OAB/PA 19558

. Já reparou que seja lá quem esteve no poder nos últimos anos, enfrentou grande dificuldade para se reeleger ou perdeu a eleição?

Vimos, nas últimas eleições, Prefeitos e Vereadores que buscavam a renovação de seus mandatos, surpreendidos pelas urnas, que revelaram uma crescente insatisfação popular e uma demanda por renovação política, em razão da cobrança mais rigorosa da população em relação a promessas não cumpridas em campanha.

Nesse cenário existem duas figuras que deveriam se fundir na mesma personificação mas, que, na prática, caminham para lados diametralmente opostos: candidatos x políticos eleitos.

E qual relação disso com o uso da tecnologia?

É incontroverso que incumbentes precisem lidar com o peso do discurso de campanha muito vivo e presente nas memórias dos eleitores, que são, de tempos em tempos, reativadas pelas nuvens dos celulares ou no próprio histórico das mídias sociais. Antes, uma proposta de campanha impressa no jornal era esquecida antes mesmo do material virar embalagem para peixe no mercado.

Vivemos na era da quarta revolução industrial que combina inteligência artificial, biotecnologia e a expansão do uso da internet, em um ecossistema de interconexões de pessoas, com amplas possibilidades, inclusive, de influenciar o resultado de processos eleitorais[1].

Dentre os traços comuns da inteligência artificial estão os sistemas com capacidade de processar dados e informações de forma assemelhada à inteligência humana, que incluem aprendizado, raciocínio, percepção e comunicação por via da linguagem.

Foi visto a insatisfação pela população que outrora foram eleitores apaixonados, altamente envolvidos pelo discurso populista e “encantador de serpentes”, por verdadeiros outsiders que souberam explorar brilhantemente o lema da renovação para alcançar corações ou mentes.

Em capitais e cidades médias, a realidade de prefeitos que enfrentaram crises na saúde pública, atrasos em obras, problemas na educação básica, no transporte público, buraco de rua, iluminação pública e outras questões ligadas à zeladoria, bem como vereadores pouco preocupados com o funcionamento das cidades, abre uma oportunidade de cederem lugar a candidatos considerados salvadores nas eleições subsequentes.

Sem contar que quem está no cargo carrega o ônus de tomada de decisões impopulares — especialmente em contextos de crise econômica, escândalos de corrupção ou problemas na prestação de serviços públicos. A oposição, por sua vez, se apresenta como alternativa de mudança.

Candidatos à vereança ousam entrar, sabidamente, em temas que não são da sua alçada se eleitos forem, em busca de engajamento na campanha. Quando finalmente vencem, ficam com cara de Amélia para enfrentar o público.

Ao fim e ao cabo, a tendência de alternância de poder, embora desafiadora para os políticos em exercício, é considerada saudável para a democracia, pois demonstra que o voto continua sendo um instrumento eficaz de avaliação popular. O recado das urnas é claro: a continuidade no poder não é garantida, e cada mandato será julgado com lupa pelo eleitorado, especialmente a lupa digital.

 

[1] BARROSO, Luis Roberto. Inteligência artificial, plataformas digitais e democracia: direito e tecnologia no mundo atual. Belo Horizonte: Fórum, 2024. Pág. 22-24.

 

  • A autora é advogada especialista em Direito Eleitoral

 

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