Salinópolis sob ameaça inglesa: o massacre do navio Clio

História e Memória Identidade
Em 1835, a pequena vila de Salinas — hoje nosso paraíso turístico — esteve prestes a ser bombardeada por navios de guerra britânicos.
No fim de setembro, um brigue inglês chamado Clio ancorou na costa local. Vinha de Liverpool, trazendo mosquetes, tecidos, cerveja, manteiga e um engenho de moer cana. Mas o que a tripulação não sabia era que o Pará vivia uma guerra civil: a Cabanagem, revolta popular que matou o presidente cabano do Pará, Eduardo Francisco Nogueira Angelino.
Ele havia assumido o controle da província após os revoltosos tomarem Belém. Da província, incendiou cidades e tirou o controle do Império sobre a região.
Foi aqui, na areia de Salinas, que o Clio parou para buscar um prático — um guia para atravessar o perigoso estuário do rio Pará. O americano John Priest, morador da vila há 17 anos, se ofereceu como intérprete. Ao descobrir que havia armas a bordo, avisou aos moradores e participou do saque.
O resultado foi trágico: cinco marinheiros britânicos assassinados, o navio pilhado, a carga roubada. Apenas um jovem de 17 anos, o escocês Alexander Patton, escapou e denunciou tudo.
A resposta britânica veio como um trovão: Lorde Palmerston, Ministro das Relações Exteriores da Inglaterra, autorizou a marinha a invadir Salinas, prender moradores e destruir propriedades. O Capitão Charles Strong, com sua esquadra armada até os dentes, ancorou diante da vila. Se John Priest e os culpados não fossem entregues, Salinas viraria cinzas.
A pressão funcionou. Os principais envolvidos foram presos e entregues: John Priest, o americano que delatou a carga e participou da pilhagem; Manoel Maria Montero, reconhecido por Patton como um dos assassinos; Bartolomeu, outro envolvido diretamente nos assassinatos, que chegou a ser preso, mas fugiu da guarda britânica; Outros saqueadores identificados, segundo as cartas, fugiram para o mato e não foram encontrados, mas o pânico causado pela esquadra inglesa desmobilizou qualquer resistência.
O comandante inglês ainda recolheu 29 caixas de mosquetes ingleses, parte da carga do Clio, e entregou os prisioneiros às autoridades brasileiras em Belém. As casas à beira-mar de Salinas, segundo o relatório britânico, estavam em ruínas — e a vila levaria anos para se recuperar.
Esse episódio ficou fora dos livros de história, mas é parte viva do nosso passado. Em tempos de Cabanagem e impérios coloniais, Salinas foi palco de um conflito que quase custou sua própria existência.
Fontes:
Cartas oficiais entre o governo britânico e o brasileiro (1836), traduzidas e publicadas por Lúcio Flávio Pinto na Revista Agência Amazônica.
Transcrito da página Salinópolis Raiz – LINK

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